A gravidez não nos prepara para ser mãe. A vida, os livros, a teoria, a prática com os primos, irmãos e sobrinhos, nada nos prepara para ser mãe.
A natureza, que é tão mágica nisto de nos transformar o corpo e de nos fazer capazes de gerar vida dentro de nós, parece imperfeita ou injusta quando, depois do parto, somos lenta e subtilmente hipnotizadas por um estado emocional nunca antes experienciado.
Nascer mãe é um parto difícil, física e emocionalmente. Lembro-me da primeira noite que passámos as duas juntas, no hospital, em que não preguei olho. Nessa fase, os baby blues ainda não tinham batido à porta, mas uma tristeza mascarada de alegria e comoção já pairava sobre mim. Passei a noite a olhar através do berço transparente, a vê-la. A reconhecê-la. A querer protegê-la de tudo e a pedir que nunca nada de mal lhe acontecesse, e de estar em pânico de não saber como cumprir o meu papel.
Nascer mãe é um parto difícil, doloroso. Os primeiros dias podem ser de uma solidão sem fim. De repente, normalmente depois de estarmos em casa, quando temos de gerir novas rotinas e uma nova pessoa nas nossas vidas, abate-se sobre nós a dúvida, o sentimento de culpa, o remorso, o medo, a tristeza, a desilusão e, novamente, o sentimento de culpa porque julgamos ser as piores pessoas do mundo por não estarmos a dar pulos de felicidade pelo nosso bebé.
A verdade é que essa nuvem a que chamam de baby blues nos suga as forças e o optimismo e deixa-nos uma série de perguntas e pensamentos com os quais temos de lidar: "fiz bem em ter tido um filho?", "vou ser capaz de cuidar dela?", "preciso tanto de descansar", "não consigo tratar dela", "a minha vida nunca mais vai ser a mesma", "o meu marido vai deixar de gostar de mim", "porque é que me sinto assim?", "o meu bebé não me vai amar".
As perguntas sem resposta repetem-se durante alguns dias, ecoam no pensamento e toldam-nos os sentidos e sentimentos. Ninguém nos prepara para isto, ninguém fala abertamente sobre isto e nós temos vergonha de admitir que estamos neste estado.
Os baby blues tornam-nos orfãs de nós mesmas. Raptam-nos para longe e deixam no nosso lugar uma mancha ténue do que somos. Choramos, choramos, choramos. As lágrimas saltam sem aviso nem motivo aparente e a dor de chorar de tristeza a olhar para o nosso filho só nos faz querer chorar mais.
Os dias são compridos de mais para serem suportados e demasiado curtos para que consigamos fazer deles alguma coisa que nos anime. Um cansaço interior consome-nos a alma. O nosso bebé precisa de nós e temos dois pesos em cada perna, no peito, na cabeça, nos braços. Quando a recuperação do parto é mais complicada, como foi a minha, tudo isto imagino que tome proporções ainda maiores.
Os meus baby blues vieram e foram embora de forma intensa e veloz. Em muito contribuiu o facto de ter conseguido pedir ajuda e verbalizar que estava com medo. Em muito contribuiu ter um marido que me ajudou em tudo e que me pediu para ter força. Não tenham receio de pedir ajuda nem de falar abertamente sobre o que sentem com os vossos companheiros, amigos ou família. Este é o melhor conselho que posso deixar. Os outros são os de repetirem a vocês mesmas que é normal e que muitas mulheres passam por isto. É difícil acreditar que tal estado possa ser normal e que vai passar, mas é a verdade. Passa.
Mentalizem-se que são as hormonas a responder por vocês e a tomar conta do vosso estado de espírito e repitam isso incansavelmente. Não se deixem ir mais fundo do que aquilo que é suposto, para não correrem o risco de ficar presas na rede e de esta situação se tornar menos passageira e menos reversível. O medo da depressão aqui pode funcionar como motivação para combater os baby blues.
Peçam ajuda para tratar do bebé, verbalizem o que sentem para atenuar os sentimentos de culpa, deixem-se mimar e tomem consciência de que é normal.
Mais cedo do que esperam regressam, sãs e salvas e felizes. Algumas dúvidas persistem, provavelmente alguns medos também. Mas a tristeza vai-se e, a pouco e pouco, os dias tornam-se mais fáceis, mais felizes. A pouco e pouco sabem que dão o melhor de vocês e que o vosso melhor é o que basta ao vosso bebé.