29 de Janeiro, 40 semanas certas e o receio de prolongar a gravidez tendo em conta que a miúda era grande. Fomos, como combinado, às urgências, ter com a médica que me seguiu nas últimas semanas no Hospital de S. Francisco Xavier (a fantástica Dra. Lurdes Gonçalves), para ser avaliada.
O toque dizia que ainda faltava, mas o CTG já acusava contracções. Eu ansiosa, a querer que fosse naquele dia, com aquela médica. Uma ansiedade louca, cansada de estar grávida, com vontade de a ter nos braços, a parecer maluquinha de cada vez que sentia uma contracção (será que é desta que pegam?).
As contracções, pouco ou nada dolorosas, mas com algum ritmo, fizeram com que ficasse. Fui dar uma volta de uma hora, a pé.
A última fotografia grávida
Quando voltei, o colo do útero já estava mais molinho, mas ainda nada de especial. Fui internada e levaram-me para o bloco. Estava em início de trabalho de parto mas precisava da ajuda da ocitocina. Deviam ser mais ou menos duas da tarde.
Tinha contracções, sem dor. Nada insuportável. Os anestesistas vieram a certa altura (a noção do tempo perde-se) perguntar se ia querer epidural. Respondi que por enquanto não precisava, não tinha dor. Fui fazer exercícios numa bola de pilates para ajudar as contracções e para ela encaixar.
O colo do útero já tinha dilatado mais um centímetro, mas estava a demorar. Rebentaram-me o saco amniótico para acelerar a coisa e quase instantaneamente passei do 8 ao 80, no que toca a dor. Uma dor tremenda, de me fazer curvar toda sobre mim mesma. O João, que estava ao meu lado, quase que era mordido quando tentou falar comigo, tamanho o desconforto, o sofrimento. Não conseguia pensar. Sei que carreguei 3 vezes na campainha para me darem a epidural.
Veio um enfermeiro e uma anestesista, calmos e queridos, que me ajudaram a relaxar e me deram a epidural sem que eu tivesse quase dor.
De repente, estava no céu (filha, se me estás a ler, drogas só epidural!) Conseguia pensar outra vez, respirar, conversar. A certo ponto tinha a equipa médica comigo no bloco à conversa. Até de políticas de saúde falámos. Quase que me esqueci que estava ali para parir.
O tempo foi passando, ia tendo contracções e, de repente, já estava com 8 cm de dilatação. Deviam ser umas seis ou sete da tarde. Aqui comecei verdadeiramente a perder a noção das horas e do tempo a passar e, só passado uns dias depois do parto é que me apercebi do que aconteceu.
Basicamente, a bebé não estava na melhor posição, a apresentação da cabeça não era a indicada. Tive de me deitar de lado, com contracções, e fazer força, para ver se ela encaixava melhor. Isto demorou algum tempo, não sei quanto. Agora que olho para trás apercebo-me de que a equipa médica conseguiu manter a calma e não deixar transparecer nada, nenhuma ansiedade. Era o meu primeiro filho, para mim aquilo era normal. Sabia lá.
Hoje, sei que não foi inocente quando pediram a um dos médicos que estava de banco para não sair dali (estava fora do bloco, à porta, sentado). Afinal, era o médico especialista na utilização de fórceps.
Pediram-me para fazer força em várias posições e eu fiz tudo o que podia e o que me pediam. Diziam que estava a ser uma linda menina e para mim tudo aquilo era normal, era assim mesmo.
Lá fora, no entanto, os nervos tomavam conta da família que estranhava a demora, visto que há uma hora atrás já o João tinha ido dizer que estava quase.
Estava quase mas demorou. Pediram ao João para sair. Tiveram de fazer uma episiotomia e ela foi tirada com fórceps kielland, que não só ajudam a puxar o bebé mas também a rodar-lhe a cabeça. Na altura, lembro-me de ver o médico com uma coisa enorme e metálica nas mãos e de não me aperceber que aquilo eram fórceps.
Entramos num estado tal, que estamos a ver o que se passa à nossa volta sem assimilar a realidade. Não tinha dor, estava cansada de fazer força e estava como que a flutuar no tempo sem noção de nada.
O João volta a entrar. Às 21:20 ela nasceu. A sensação de ela a sair de dentro de mim, tão estranha e impressionante, fez-me respirar de alívio. Só queria saber que estava tudo bem. Oiço dizerem que nasceu com 3975gr, e eu digo que me estou a sentir mal. Dão-me oxigénio e olho para ela, que está ali ao lado, com os enfermeiros.
Ver os grandes amores da minha vida a olharem-se pela primeira vez, fez-me chorar. Já estava. Era real. Éramos três.
A primeira fotografia dela.
Só me resta agradecer à equipa fantástica que esteve comigo neste momento tão marcante. Pela tranquilidade e serenidade que mantiveram ao longo de todo o trabalho de parto, não deixando transparecer ansiedade nem preocupação. À Dra. Lurdes Gonçalves, o meu muito obrigada. É inspirador encontrar alguém tão competente e tão humano como ela.
Como nem tudo é perfeito, as únicas críticas que posso apontar são questionar-me sobre o motivo pelo qual não foi feita nenhuma ecografia antes do parto, e a episiorrafia que me foi feita e que acabou por infectar (faz-me confusão que com tantos pontos não receitem logo um antibiótico e indiquem um tratamento com pomadas). Com a ecografia talvez se pudesse ter visto antecipadamente que ela não estaria na melhor posição e o sofrimento de ambas teria sido menor, eventualmente. Com o antibiótico e pomadas e uma sutura mais jeitosa, talvez se tivesse evitado voltar lá segunda vez para o corte e costura...
De resto, cinco estrelas. É lá que quero ter um segundo filho (mas agora não quero pensar nisso, ok?)